Inúmeras coisas podem acontecer quando forçamos o caminho através da resistência. Freqüentemente, descobrimos que nos tornamos um exemplo de ambivalência. A afirmação “Sim, vou fazer isso”, na segunda-feira de manhã, torna-se “Não, não vou fazê-lo”, na segunda-feira à noite. Uma parte de nós continua experimentando a nova idéia como se fosse uma roupa exótica; a outra parte preferiria se enfiar logo num roupão confortável. Às vezes, sentimos que, na verdade, perdemos a capacidade de tomar uma decisão com clareza.
Por exemplo, a maioria de nós descobre que é ambivalente a respeito daquilo que quer na área do relacionamento pessoal. Se nos tornamos maiores de idade nos últimos vinte anos, acabamos tornando-nos parte dos conceitos mutáveis dos homens e das mulheres a respeito de relacionamento. Descobri que essa alteração cultural não termina absolutamente com o período de resistência. E essa resistência geralmente traz idéias ambivalentes a respeito de maridos, esposas ou namorados.
Um dos cursos que costumo oferecer é acerca de relacionamentos e, nesse curso, eu peço às pessoas que façam um teste para examinar suas atitudes. Quase todos se revelam ambivalentes sobre aquilo que pensam que deveriam buscar e aquilo que realmente os faz sentir-se bem. Por exemplo, eles podem ter vontade de viver um relacionamento igualitário. Uma mulher poderia dizer — e ela realmente está sendo sincera — que não se importa com o dinheiro que o homem ganha. Ela fica satisfeita se ele dirige um carro velho e vai acampar nos fins de semana. Ela quer apenas que o seu relacionamento seja igualitário. No entanto, quando é pressionada para ser sincera, ela geralmente admite que o homem que está dirigindo um carro novo a caminho de uma promoção realmente desperta o seu interesse. Um homem acostumado com mulheres liberadas consegue admirar uma mulher que tem o mesmo sucesso profissional que ele. Mas admite secretamente que fica mais à vontade quando sente que está no comando. Ambos estão falando a verdade a respeito daquilo que querem; apenas são ambivalentes. As velhas formas do homem ideal e da mulher ideal estão profundamente assentadas na nossa psique. Elas não se rendem sem lutar. É claro que o meu exemplo é estereotipado para servir de argumento, mas não conseguiremos aproveitar criativamente um desempenho, a não ser que sejamos francos quanto à sua existência. Sim, mas esses tornam-se um estilo de vida quando estamos atravessando a resistência. “Sim, eu sei que não quero que ele me trate dessa maneira, mas… e se eu falar alto e ele for embora?”
“Sim, eu gostaria de voltar à escola, mas ele (ela, eles) não vão deixar.”
“Não, eu não aprovo os resíduos químicos, mas, e se eu protestar e atirarem em mim?”
“Sim, sou a favor da igualdade, mas preciso tocar meus negócios.”
“E se eu estiver errado?”
“E se eu falhar?”
E, mais perturbadoras do que tudo, as questões não verbalizadas: “Do que é que eu vou ter de abrir mão?” A velha forma tem a doce garantia da tradição. Sabemos o que esperar, mesmo que não gostemos disso. A idéia nova não tem história; não temos noção daquilo que esperamos e os medos crescem rapidamente no desconhecido.
Conheço um médico que lutou durante meses com o ”sim, mas”. Sua forma tinha sido seu treino tradicional que o ensinara a encarar a doença como se fosse o colapso de uma máquina. A medicação era o modo de consertá-la. Porém, à medida que ele foi se expondo cada vez mais a atitudes holísticas, acabou se interessando muito sobre o modo como a mente e as emoções afetam o corpo. Não se tratava de um desafio grande demais. Ele podia encontrar um lugar para isso dentro de sua velha forma. Mas, quando testemunhou a cura espiritual, que era claramente “impossível” de acordo com sua antiga forma, enfrentou um sério desafio. Como um verdadeiro médico — não apenas um técnico — ele queria honestamente crescer em sua compreensão a respeito das coisas. Por causa disso, começou a desafiar seriamente suas crenças originais. A essa altura, sua mente lógica enfrentou um conflito terrível; a ciência existente era o grande canhão. Ele também tinha de lidar com seus medos tendo em vista o modo como o AMA [CRM], seus colegas e pacientes poderiam reagir.
Finalmente, resolveu o conflito e tornou-se um verdadeiro médico holístico, mas não antes de lutar com suas resistências, assim como Jacó teve de lutar com o Anjo do Senhor. É interessante observar que foi a ciência, a “nova física” que explora a consciência, que o ajudou a construir uma ponte sobre a fenda que havia separado a
verdade espiritual e da verdade científica no seu passado.
As 7 Etapas de Uma Transformação Consciente, p. 139
Foto: Community Photography Now and then