Às vezes o despertar do ciclo chega de um modo inteiramente inexplicável, como uma “experiência mediúnica”. A mãe desperta assustada de um sono profundo, às três da manhã, e depois fica sabendo que seu filho morrera num acidente exatamente naquele momento. Um executivo segue um “palpite”, sem nenhuma base de apoio, e ganha milhões para a companhia. Um médico, guiado unicamente pelo instinto, manda fazer um exame que salva a vida de um paciente. Uma vizinha tem a “sensação” de que você colocou documentos importantes em lugar errado, e ela está certa.
Como William James comenta em The Varieties of Religious Experience [As Variedades da Experiência Religiosa, Editora Cultrix, São Paulo, 1991.] “nossa consciência vigilante normal, a consciência racional, como a denominamos, é apenas um tipo especial de consciência, enquanto, ao seu redor, separadas dela pela mais fina das telas, encontram-se formas potenciais de consciência. Podemos passar pela vida sem suspeitar da existência delas mas, se aplicarmos o estímulo necessário, a um toque elas estarão lá em toda a sua completude. Nenhuma descrição do universo na sua totalidade pode ser definitiva se deixar de considerar essas outras formas de consciência.”
Uma vez que passamos por uma dessas experiências perturbadoras, nunca mais podemos definir a realidade da mesma maneira cômoda, satisfatória. Isso porque, bem na margem da nossa visão periférica, pudemos olhar, por um instante, um mundo totalmente diferente. E isso momentaneamente põe de lado os nossos conceitos rígidos do que é real e do que é irreal. Isso foi bem explicado pelo dr. Charles Richet, que ganhou o Prêmio Nobel em 1913 pela sua descoberta do choque anafilático. Ao enfrentar a crítica dos colegas sobre o seu estudo da clarividência, ele respondeu: “Eu não disse que era possível; apenas disse que era verdade.”
Numa sociedade em que todos simplesmente idolatram o racional, somos, por vezes, levados ao encontro com o desconhecido. Ele não está mais “lá longe”, como os mistérios do espaço que, conforme acreditamos, a ciência vai explicar um dia. Não, o mistério é íntimo, está dentro de nós. Como questionava Lily Tomlin, “Por que é que, quando falamos com Deus, chamamos a isso de oração, mas quando Deus fala conosco, chamam a isso de esquizofrenia?”
Quando sabemos que algo extraordinário realmente ocorreu, freqüentemente procuramos nossos líderes religiosos para nos dizer se isso é bom ou ruim. A religião, invariavelmente, dá o primeiro tiro no desconhecido. Quando não compreendíamos as tempestades, nós as atribuíamos à raiva dos deuses. Quando o mundo dos micróbios era desconhecido, as infecções eram vistas como castigo dos deuses. Contudo, os fenômenos que aceitamos amplamente sob o termo mediúnicos não são inerentemente nem bons nem ruins, do ponto de vista espiritual.
Assim como cada um de nós tem um QI, também cada um de nós tem um Psi Q, o nosso quociente de mediunidade. O Psi Q é o potencial que há dentro de todos os seres humanos para perceber e interagir com realidades não-físicas. Não há nada de sobrenatural a respeito das capacidades mediúnicas. Elas, talvez, sejam naturalmente super e supra — mas não sobrenaturais.
É improvável que possamos descobrir qualquer cultura no planeta Terra que não tenha tido pessoas com altos Psi Qs, aquelas que são capazes de utilizar, coerente e intencionalmente, as capacidades que tendem a ocorrer ocasionalmente na maioria das pessoas. O modo como as sociedades vêm tratando as pessoas dotadas de mediunidade varia desde a veneração e quase divinização até a ridicularização, a perseguição e a morte. Elas são vistas, ou como mensageiras de Deus, ou como inimigas de Deus. Mas pouco importa se aqueles que têm grande percepção mediúnica são integrados numa cultura ou se ficam ocultos em suas sombras, eles sempre existiram entre nós — como xamãs, profetas, videntes, curandeiros, visionários, clarividentes e até mesmo animadores de espetáculos.
O monarca inglês do século XI, o rei Canuto, demonstrava tanta sintonia com energias misteriosas que sua corte o considerava um mago. Ele tentou dizer aos seus súditos que não se tratava disso. Eles não quiseram ouvi-lo. Foi então que ele levou um grupo de seus cortesãos até o mar e colocou sua cadeira à beira das ondas quando a maré estava baixa. Quando ela voltou a subir, o rei estendeu as mãos e ordenou que o mar parasse, o que, naturalmente, não aconteceu. Mas, pelo menos, algumas pessoas de seu povo entenderam a lição: a pessoa sábia não se opõe à ação da natureza, mas entra em sintonia com ela e atua junto com ela.
As 7 Etapas de Uma Transformação Consciente, p. 163
Foto: Krazydad