La Llorona

Um rico hidalgo, fidalgo, corteja uma moça pobre, mas muito bonita, e conquista seu afeto. Ela lhe dá dois filhos, mas ele não se dispõe a casar com ela. Um dia, ele comunica que vai voltar para a Espanha, onde se casará com uma moça rica escolhida por sua família, e que vai levar seus filhos para lá. A jovem mãe fica fora de si e age no estilo das célebres loucas enfurecidas de todos os tempos. Ela arranha o rosto do homem e arranha seu próprio rosto. Rasga as vestes dele e rasga as suas próprias vestes. Ela apanha os dois meninos pequenos, corre para o rio com eles e lá os joga na correnteza. As crianças morrem afogadas, e La Llorona cai às margens do rio, cheia de dor, e morre.

hidalgo volta para a Espanha e se casa com a mulher rica. A alma de  La Llorona sobe aos céus. Lá o porteiro-mor diz que ela pode entrar nos céus, já que sofreu, mas que não pode lá entrar sem  antes resgatar do rio as almas das duas crianças.
E é por isso que se diz hoje em dia que  La Llorona vasculha as margens dos rios com seus longos cabelos, que mergulha seus dedos compridos na água para arrastá-los no fundo à procura dos filhos. É também por isso que as crianças vivas não devem se aproximar dos rios depois  de anoitecer, porque  La Llorona pode confundí-las com seus próprios filhos e levá-las embora para sempre.

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Passemos, agora, a uma versão moderna de  La Llorona. À medida em que a cultura sofre influências diversas, nosso modo de pensar, nossas atitudes e nossos temas mudam. Muda, também, a história de  La Llorona. Enquanto eu estava no Colorado no ano passado, colhendo histórias de fantasmas, Danny Salazar, um menino de dez anos de idade, sem dentes incisivos e com pés absurdamente grandes para um corpo mirrado (pois um dia será muito alto), me passou esta história. Ele me garantiu que La Llorona não matou os filhos pelos motivos mencionados na versão antiga.
“Não, não”, insistiu Danny.  La Llorona ficou com um rico hidalgo, dono de fábricas junto ao rio. Algo, no entanto, deu errado. Durante a gravidez,  La Llorona bebeu água do rio. Seus filhinhos, dois meninos gêmeos, nasceram cegos e com os dedos unidos por membranas, pois o  hidalgo havia envenenado o rio com os dejetos das suas fábricas.
O hidalgo disse a La Llorona que não a queria, nem a seus filhos. Ele se casou com uma mulher rica que queria os objetos produzidos pela fábrica.  La Llorona jogou os filhos no rio porque eles iriam levar uma vida extremamente difícil. Depois, ela caiu morta de tanta dor. Ela foi para o céu, mas São Pedro lhe disse que ela não poderia entrar enquanto não encontrasse as almas dos filhos. Agora  La Llorona procura o tempo todo por seus filhos no rio poluído, mas ela mal chega a ver alguma coisa de tão escura e suja que é a água. Ora seus longos dedos de fantasma varrem o fundo do rio, ora ela vagueia pelas margens chamando pelos filhos o tempo todo.

Mulheres Que Correm Com Lobos, por Clarissa Pínkola Estés.

Foto: Clair Graubner

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