INICIAÇÃO — Ontem, hoje, amanhã

As iniciações são passagens que marcam ao mesmo tempo um nascimento e uma morte. Há uma renúncia tendo em vista um bem maior. Toda mudança importante pela qual passamos — desde a saída de casa para entrar no jardim da infância até o casamento, das alterações hormonais da puberdade até outras que surgem na meia-
idade — representa uma passagem que nos oferece a oportunidade de nos iniciarmos
em novos níveis de consciência.

Krishna ensinou que o eu deve morrer para que nasça o Eu; no Tao Te Ching [Tao-Te King Editora Pensamento, São Paulo, 1987] o sábio chinês Lao-tzu nos conta que o aluno aprende com as perdas diárias. Jesus nos disse que temos de perder a vida a fim de conquistá-la. A essa altura, devemos lembrar que o pássaro mítico, a fênix, também renasce das próprias cinzas.

Temos a necessidade de marcar nossos ritos de passagem com o ritual. Uma peregrinação anual; o Natal, a Páscoa, o  Ramadan ou o  Yom Kippur; festas de equinócio da primavera ou do outono — cada um deles ratifica ciclicamente nossas verdades através da cerimônia. Casamentos, funerais, batismos, crismas e bar mitzvahs param o tempo por um momento para dizer: “Prestem atenção. Algo significativo está acontecendo aqui.”
Quer estejamos fazendo votos solenes, quer estejamos tentando dominar uma matéria difícil, estamos penetrando no terreno do novo e tomamos nota disso. É feita uma escolha, seguida de um período de preparação, de teste e, depois, de aceitação — cada um constitui um passo para uma iniciação na nova experiência. Até mesmo em nossas atividades mais mundanas, obedecemos a uma necessidade interior de marcar a mudança em nossa vida. Se uma cerimônia formal não é preparada, criamos inconscientemente um ritual que enfatiza a passagem. Mudamos de casa, compramos um carro, limpamos os armários, vendemos as coisas velhas — alguma coisa nos diz: “Olhe, acabou. Estou abrindo caminho para o novo.”

Uma garota, identificada apenas como Elizabeth, contou como se recuperou de uma experiência de violência a que foi submetida, num artigo do  Readers Digest (fevereiro de 1988). Ela e suas amigas realizaram um ritual de limpeza no local do estupro. Foi a maneira que ela encontrou de pôr um fim na história. “Os rituais são um modo maravilhoso de passar um traço sobre alguma coisa, de modo que você possa
começar a libertar-se dela”, disse a moça.
Os rituais levam as coisas a uma conclusão ou anunciam um início. Estamos sempre participando de um processo de conclusão e novos começos. Passo a passo, vivemos a vida comum para revelar o Divino. Pode parecer que a vida diária nem sempre tem algo que ver com o Divino porque fomos programados para ver ambos como coisas separadas. Mas até mesmo a experiência mais mundana é um exercício espiritual. Essa é a agenda da escola da Terra. Mesmo quando estamos vivenciando os nossos aspectos mais escuros, estamos recebendo a oportunidade de aprender mais a respeito de quem somos e de quem não somos. Cada vez que damos um passo consciente à frente, estamos trazendo o espírito para o nível físico. Esse passo consciente faz parte do eterno processo de iniciação. Ele assinala o ponto no qual a consciência interior é trazida para a expressão exterior, quando o corpo, a mente e o espírito se unem numa clara integração. Quando você está sendo iniciado em alguma coisa, você está se tornando essa coisa.

Transformamo-nos naquilo em que acreditamos

Não é difícil nos tornarmos intelectualmente receptivos em relação a conceitos, quer sejam espirituais, psicológicos ou científicos. Mas outra coisa é nos tornarmos uma afirmação viva desses princípios. Ansiamos por uma verdade, descobrimos, pesamos, experimentamos essa verdade para ver se nos serve, somos confrontados com tudo o que há dentro de nós que não é essa verdade, resistimos à mudança que ela exige de nós e nos purificamos de todo entulho remanescente. A essa altura, não há mais luta, não há mais ambivalência. É isso o que somos.

Sermos iniciados, portanto, é nos tornarmos aquilo em que acreditamos. E não há tapeações. Podemos nos enganar uns aos outros, podemos até mesmo concordar em nos enganar uns aos outros — “Eu acredito na sua hipocrisia se você acreditar na minha” —, mas somos aquilo que vibramos no mundo.  Na verdade, há um grande alívio quando reconhecemos a futilidade de fingir que acreditamos numa verdade que não adotamos como nossa. Os fingimentos pesam muito e requerem um esforço enorme para serem levados adiante. Deixar os fingimentos de lado é uma atitude que nos permite ver com mais clareza aquilo que realmente está acontecendo; de outro modo,  nós os cercamos de tanto fervor que começamos a acreditar neles como se fossem algo autenticamente nosso.
Todos aspiramos por uma verdade muito antes de nos tornarmos essa verdade. Contudo, o desejo é o primeiro passo. Lembre-se do antigo provérbio: “Tome cuidado com aquilo que pede; você o obterá com o tempo.” Entretanto, em geral, temos de confrontar muitos espelhos que mostram como aquilo que desejamos faz falta na nossa vida. Se oramos para ter paciência, ela não vem como um buquê de rosas. Em vez disso, nos deparamos com uma situação após outra que nos permite que ponhamos em prática a paciência. Se rezamos pela paz, todas as nossas guerras internas serão declaradas, de modo que possamos aprender a ser pacíficos.
Conheço uma mulher que abandonou uma carreira de sucesso como terapeuta, na qual era muito respeitada por suas descobertas e habilidades, para se dedicar a uma vida espiritual por alguns anos. Ela queria se tornar o amor em que acreditava. Foi para um  ashram na Índia, onde foi imediatamente escalada para trabalhar na limpeza dos banheiros. À primeira vista, pareceria que sua cultura e suas habilidades não estavam sendo bem aproveitadas. Mas esse trabalho espelhava perfeitamente, para ela, a tirania do ego que sombreava o amor com a reprovação e a exclusividade. Enquanto esfregava vasos sanitários e assoalhos para os outros que viviam no  ashram, durante alguns meses, ela aprendeu a impregnar de amor essa tarefa. Tornou-se aquilo que pedira para aprender. Essa tarefa humilde tornou-se o seu mestre iniciático.

As 7 Etapas de Uma Transformação Consciente, p. 44

Foto: Mara

Deixe uma resposta

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Imagem do Twitter

Você está comentando utilizando sua conta Twitter. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s