As iniciações são os portais através dos quais passamos de uma sala para outra e depois para outra, e cada uma delas nos aproxima mais de nosso próprio centro, o Santo dos Santos. Cada sala encerra desafios para nós; seu tamanho, seu conteúdo, as pessoas que lá se encontram, tudo é perfeitamente designado para o nosso crescimento naquele momento. Sempre temos a opção de decidir se vamos seguir adiante. Temos o privilégio de dizer, a qualquer momento: “Obrigado, mas vou dar o fora.” Algumas salas contêm tentações fascinantes para nos reter: “Esqueça tudo. Divirta-se.” E podemos decidir ficar nessas salas, como os convidados de um banquete, enfeitados e bem alimentados, assegurando uns aos outros que esse é o melhor lugar possível para ficar. Algumas das salas contêm imagens aterradoras de nossas sombras, que parecem guardar o próximo portal como as ferozes gárgulas dos velhos templos. Se quisermos atravessar esses lugares, teremos de aceitar, dominar e integrar os monstros da sombra de nossas psiques.
Alguns anos depois de começar a trabalhar, fiquei confinada numa dessas salas e lá permaneci por uns dois anos. Dedicava-me com prazer à tarefa da cura e às
consultas particulares. Mas, sempre que pensava em lecionar ou fazer conferências públicas, sentia um medo gelado. Aquilo não tinha nenhum sentido racional para mim,
já que eu tinha o hábito de falar em público e tinha me exposto bastante através de atividades muito variadas desde a infância. Eu sabia que tinha uma profunda resistência para me apresentar em público, mas não atinava por quê. Finalmente, cansei de dançar com minhas sombras. Normalmente é isso o que serve de alavanca para uma mudança.
Segundo uma tia minha, muito inteligente, “as pessoas ficam bem quando enjoam e se cansam de estar enjoadas e cansadas”. Comecei a rezar para alcançar visões internas desse medo. Levou um ano inteiro para que elas viessem.
Então, tive uma visão e nela eu era uma jovem cristã, em algum período dos primeiros séculos depois de Cristo. Entrei na história no momento em que estava sendo levada a uma fogueira para ser queimada em virtude da minha religião. Enquanto minhas mãos eram amarradas à estaca de madeira por um soldado, eu olhei nos seus olhos.
Ele estava em silêncio, mas sua expressão tentava me dizer que estava apenas fazendo o seu trabalho. Eu o vi acender o fogo e senti o cheiro da primeira fumaça. Então, de repente, eu não estava mais no meu corpo e ouvia uma voz amável dizer, gentil e claramente: “E então, era para ter medo disso? Tudo o que você fez foi morrer.”
Então eu entendi. Num instante, o medo desapareceu. Eu tinha carregado, na minha consciência, o medo de que, se levasse minhas crenças a público, seria perseguida e condenada à morte. É claro que aquilo era ilógico, mas os medos não estão baseados na lógica. Embora o medo que sentimos seja real, a origem dele está na mente. No dia seguinte, eu estava com vontade de falar em público para todos os que quisessem me ouvir.
As pessoas que estão familiarizadas com o processo de terapia sabem que uma experiência de descoberta normalmente não faz o medo desaparecer.
Geralmente, ela é seguida por meses de integração. No entanto, aquele “ah!” foi direto ao núcleo do medo e descarregou a influência que ele tinha sobre mim. Parte dessa limpeza consistiu em perdoar todos os que estavam envolvidos naquilo que eu percebi como minha perseguição, depois abençoar a experiência e liberá-la.
Não importa muito se alguém quer interpretar isso como a lembrança de uma vida passada, uma experiência arquetípica, um símbolo ou uma lembrança racial. Um medo é sempre um medo. Enquanto essa energia não é liberada, ela continua sendo um ímã que atrai situações semelhantes. Se você tem medo de alguma coisa, acaba dando um jeito de vivenciá-la várias vezes. Como dizia Jó: “Aquilo que eu temia, aconteceu comigo.”
Nossas iniciações acontecem todos os dias enquanto vivemos o aqui e agora. Através da boa vontade para honrar os nossos locais de aprendizado e estar inteiramente presentes com nossas dores e aflições, com nossos amores e descobertas, com nossa luz e nossa sombra, transformamos tudo aquilo que não é mais necessário. E a transformação é a meta da iniciação. O prefixo trans significa “ir através”; também significa “ir além”. O que ele não significa é “evitar”. Podemos passar muitos anos movendo-nos através de uma grande variedade de experiências para aprender as lições em qualquer passo de iniciação. Podemos até gastar muitas vidas nisso. Mas cada passo que damos representa uma iniciação espiritual. Quanto menos sobrecarregados estivermos com a bagagem de nossas idéias preconcebidas a nosso próprio respeito, que são todas temporárias, mais íntimos nos tornaremos daquilo que é real e duradouro.
Uma vez eu pedi ao Espírito que me ajudasse a compreender a diferença entre o Real e o irreal, e a resposta foi a seguinte: “O irreal concebe a separação. O Real sabe que não há nenhuma separação. O irreal é solitário, causa desespero e preocupação; o Real vê o desafio, cria soluções, sabe. O irreal produz cada vez mais confusão. O Real fortalece.”
Todos os nossos dramas têm o propósito de nos ensinar o Real, com um enredo por vez. Cada um nos aproxima mais da iniciação num outro nível de compreensão. Aquilo que parece ser real para nós em qualquer momento é relativo à nossa compreensão e ao nosso ponto de vista. Observando uma experiência em desenvolvimento, o que você vê é apenas a experiência, e nós dizemos que ela é boa ou ruim com base na dor ou no prazer que causa. Encarada pela perspectiva dos anos, ou melhor ainda, do prisma espiritual, a experiência é vista sob uma Luz inteiramente diferente.
Certa vez conheci um homem totalmente despreocupado com tudo o que não dizia respeito a seus objetivos imediatos e egotistas. Esse homem quebrou a coluna e acabou internado num hospital, ficando totalmente incapacitado, pelo espaço de um ano. À primeira vista, isso parece algo bastante ruim. Mas, depois desse ano, ele abriu um acampamento para crianças fisicamente deficientes. De uma perspectiva mais ampla, o ano “perdido” foi aquele em que ele encontrou a si mesmo. Quanto mais ampla é a visão, quanto mais abrangente, maior é a habilidade de responder sim às coisas que parecem paradoxais, em vez de insistir no sim ou não.
Uma vez me foi dito em Espírito que existe um paradoxo “quando a mente não se expandiu o bastante para abarcar opostos aparentes”. Se nos dedicamos a buscar o Real, podemos viver com segurança no mundo e não apenas tolerar ou atacar aquilo que parece paradoxal. Isso se torna parte do prazer de explorar os mistérios ainda não revelados.
Múltiplas realidades coexistem: elas não se anulam umas às outras. Talvez você já tenha visto a figura do vaso que se torna o perfil de duas pessoas quando se muda o ângulo de percepção. Tão logo você entenda isso, poderá, facilmente, mudar de um ângulo para outro. Mas até chegar a entender isso, o perfil do objeto já terá mudado.
Para subir uma escada é preciso que todos os degraus estejam no seu lugar.
Nenhum degrau é mais importante que o outro, mas não se pode estar num degrau superior sem antes ter escalado os inferiores. Porém, à medida que subimos, a visão vai ficando mais ampla. Nossa perspectiva a partir dos degraus inferiores não pode abranger a vista que se descortina a partir dos degraus superiores. Contudo, a posição vantajosa dos degraus superiores não invalida os outros degraus. O primeiro degrau da escada é real; assim também o décimo. A diferença é que o décimo inclui o primeiro.
Certa vez, dei uma consulta a um jovem assistente social que estava profundamente comprometido com um serviço a ser prestado ao “Novo Pensamento”. Mas ele estava intrigado com o fato de ter de trabalhar naquilo que lhe parecia um sistema burocrático, vagaroso. Quando procuramos penetrar em suas intenções mais profundas, pareceu-nos que sua missão nesta vida era trabalhar dentro de instituições existentes, num emprego convencional, como um estabilizador que funcionasse durante as turbulências das mudanças que estamos vivenciando. Com a finalidade de ajudá-lo a compreender a importância disso, recorri ao sentido mais profundo da história de Noé. Foi-me comunicado em Espírito que, durante qualquer mudança de era importante, há pessoas cuja tarefa é preservar as sementes de tudo o que a nossa espécie realizou até aquele momento e levá-las até a nova era. Quando chega a hora de passar pela iniciação como um povo, atravessamos o processo da morte que parece envolver grande turbulência e destruição. Mas a evolução que atingimos até esse momento não é perdida. As sementes da criação — os pares das criaturas preservadas na arca — são levadas conosco para atravessar o portal da iniciação até a compreensão superior.
Os frutos de cada encarnação e a sabedoria que assimilamos são preservados na consciência entre vidas sucessivas e são levados para novas encarnações. Muitas e muitas vezes, em sessões de aconselhamento, vi que os talentos que uma pessoa tem hoje originam-se de realizações que ela “acumulou no paraíso” no passado — paraíso significando “um estado de consciência indestrutível”. Esses dons desenvolvidos não se perdem depois de uma única encarnação; mas as coisas “acumuladas na Terra” — isto é, que servem estritamente ao ego e nada mais — morrem com a pessoa e deixam de existir. Parece que nós podemos levar algumas coisas conosco.
As 7 Etapas de Uma Transformação Consciente, p. 49
Foto: Leodelrosa
Já estive em tantas salas … de algumas sai rápido, em outras fiquei em círculos sem saber o que fazer … mas é bom. 🙂 As salas estão ficando cada vez mais amplas e arejadas.
Algumas são tão fáceis a saída, né mesmo?
Sabe, Amada, eu acho que estou meio que “vegetando” em uma dessas salas nesse momento da minha vida….e ainda não sei como sair dela!
Estou buscando as saídas, acho que até já sei quais são, mas estou rodando, rodando….
Oi Flavia, super interessante esse texto !! Fez eu pensar em qual sala estou q nao consigo sair e ir para a seguinte rs… bjus
Eu também estou nesse mesmo ponto, minha querida….estou pedindo ajuda aos Universitários interplanetários, hahahaha!
Mas a gente sai 😉
Beijão e obrigada por estar aqui 😉