Muitas perspectivas do eterno retorno

A reencarnação tem sido atualizada em toda a história sob vários nomes — renascimento, recorporificação, metempsicose, metensomatose e até mesmo transmigração.

Como ainda não conhecemos uma física que pudesse explicar como vivenciamos múltiplas realidades, criamos muitas teorias sobre o seu funcionamento. Porém, o fato de que há muitos nomes e conceitos relativos à reencarnação, muitos dos quais contradizem os outros, não nega o fato de que ela existe. Quando a verdade observada não tem um contexto provável no qual se possa colocá-la, ela fica carregada de crendices.Tomemos a transmigração, por exemplo.

Esse conceito geralmente carrega consigo a implicação de que alguém poderia reencarnar numa forma de vida inferior. Isso não é coerente com a teoria da evolução; nós não voltamos atrás. Porém, hoje em dia, eu ainda posso encontrar pessoas que negam a reencarnação com um argumento do tipo: “Reencarnação? Não é quando você acredita que vai voltar como um cachorro?” Embora isso possa ser dito com desdém, às vezes eu sinto um pouquinho de medo na voz, um medo de que talvez Deus governe o universo como um alto oficial, trovejando: “Desobedeça à lei que Eu o rebaixo a soldado raso.”
Talvez a transmigração como conceito resulte menos da ignorância sobre a evolução que da observação de que algumas pessoas, tais como magos e feiticeiras, podem projetar sua vontade consciente nas formas inferiores. Atribuiu-se aos xamãs de diversas culturas o uso de formas animais a seu bel-prazer ou a criação bem-sucedida da ilusão de um animal. Talvez a criança que existe dentro de nós ainda se pergunte se a feiticeira má realmente pode nos transformar em sapos.
Outro conceito a respeito do modo como a reencarnação atua é o da alma universal. Essa teoria afirma que o “eu” desta vida é apenas uma das muitas expressões que existem simultaneamente nos corpos físicos, de que somos parte de uma alma universal, como células individuais num corpo único, e cada um de nós tem, dentro de si, a capacidade de conhecer todas as outras expressões do “eu” que está passando por outras vidas. Essa perspectiva encara cada um de nós, ao mesmo tempo, como o todo — a alma universal — e as partes.
O conferencista e escritor Dick Sutphen nos recomenda pensar em vidas simultâneas como um tabuleiro de xadrez em vários níveis. Se olharmos direto de cima para baixo, veremos muitos jogadores em muitos níveis. Quando um jogador se mexe, afeta todos os outros.
Essas outras vidas também somos nós? Sim, se entendermos que o espaço e o tempo não são realmente lineares. Não há início, meio ou fim; ao contrário, todas essas vidas estão acontecendo no eterno agora. Nesse caso, quanto mais cedo fizermos uso do nosso direito divino de criar e de mudar alguma coisa, mais cedo aquilo que fazemos nesta vida compensará todas as nossas outras vidas.
Uma variação quanto ao conceito da alma universal diz que somos quem somos e jamais fomos alguém mais, e que o nosso conhecimento e energia permanecerão conosco por toda a eternidade. Na essência, nós mesmos nos criamos e esse “eu” é livre para criar outros “eus”.
Há também a escola que defende a idéia de que a vida na Terra é simplesmente um jogo ilusório criado como um processo evolutivo da alma, que nós o inventamos — todo ele, mesmo que a ilusão pareça bastante real enquanto estamos aqui!  Hoje, talvez, um mestre como Jesus conversasse conosco como um físico, falando de muitas realidades alternadas, de muitas dimensões de tempo e espaço nas quais podemos viver conscientemente.
A reencarnação não é uma religião em si, embora seja aceita ou rejeitada por doutrinas religiosas. Assim como se pode ser um cientista social ou psicólogo adepto de qualquer fé, assim também se pode pertencer a qualquer religião e aceitar a reencarnação como um princípio de funcionamento da evolução da alma no universo.
Pesquisar o modo como Deus trabalha conosco através dos sistemas e leis naturais não é uma questão religiosa, mas uma questão de saber como funciona o corpo humano ou o sistema solar. Não muito tempo atrás, considerava-se pecado fazer uma autópsia. Também era pecado sugerir que a Terra não era o centro do universo.
Aceitar cegamente as afirmações de qualquer teologia pré-científica como verdade final é algo que pode determinar uma escolha dolorosa e completamente desnecessária entre o nosso anseio natural de paz espiritual e o nosso anseio natural de conhecimento.
Não há divisão entre o espírito e a ciência, a menos que a provoquemos; a ciência descobre o modo como o espírito se manifesta. E algumas de nossas ciências, hoje, estão começando a explorar áreas que anteriormente eram consideradas território estrito da teologia. Os limites entre a realidade objetiva e a realidade subjetiva estão se tornando muito imprecisos. Sabemos que exercemos influência sobre aquilo que observamos. Nossa consciência e aquilo que costumávamos pensar que era a realidade objetiva estão demonstrando que são inseparáveis.Como disse o físico David Bohm, detentor do Prêmio Nobel, “Não acho que o estudo do misticismo seja mais estranho que o estudo do mundo material”.
Corretamente compreendida, a reencarnação faz parte de um modelo teórico de ciência espiritual, uma disciplina que estuda como a consciência funciona.
Reencarnação é um termo que se refere a um dos princípios de funcionamento da consciência. Quando estabelecemos a separação entre o estudo da consciência e o estudo da natureza, colocamos a ciência e a religião em campos separados. Sem dúvida, tivemos algum benefício com isso, pois retiramos o poder que tinham as instituições religiosas de interferir no prosseguimento do conhecimento científico. Mas,
com essa separação entre a ciência material e a espiritual, também intensificamos a divisão entre nossas naturezas física e espiritual.

As 7 Etapas de Uma Transformação Consciente, p. 90

Foto: Torugatoru

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