SEGUNDA ETAPA: O desafio

A verdadeira viagem de descoberta não consiste em procurar novas paisagens, mas
em possuir novos olhos.
Marcel Proust
A mudança consciente é posta em andamento quando a forma da crença original é desafiada. Algo acontece para fazer explodir a segurança do status quo — crise, trauma ou desilusão. Ou então o desafio pode infiltrar-se sorrateiramente, como uma inquietação que assinala que você superou uma antiga atitude. O elemento que desafia a visão aceita da realidade pode vir através da educação, de uma viagem, do contato com outros pontos de vista ou da interação com alguém que tem uma perspectiva mais ampla. Mas, quer ele chegue de modo dramático quer de modo sutil, o desafio à antiga forma faz a mudança acontecer efetivamente. Você não pode voltar à forma antiga — ela não funciona mais. A mudança está em andamento.

    Desafio: tensões e distensões

O desconforto — o principal agente da mudança consciente — tem recebido muita pressão negativa. Nós não mudamos, a menos que estejamos dispostos a passar pelo incômodo que qualquer mudança acarreta às nossas velhas crenças, às nossas antigas formas. Sabemos, a partir de pesquisas sobre medicina e comportamento, que qualquer tipo de mudança, boa ou ruim, provoca tensão. Um casamento, um novo bebê, um novo emprego ou uma nova moradia provocam tensão com a mesma facilidade que a doença, o divórcio, a morte, ou o fracasso no mundo dos negócios.
O dr. Hans Selye, que conquistou fama internacional com o seu trabalho sobre tensão, definiu-a como “a reação não-específica do corpo a qualquer exigência que lhe é feita”.
Na  Escala de Avaliação de Reajustamento Social Holmes-Ray, várias mudanças na vida humana recebem pontos de tensão. Conheci um jovem casal que tinha certeza de que seu casamento estava destinado ao fracasso e procurou aconselhamento com um psicólogo. A primeira coisa que o psicólogo fez foi submetê-los ao teste de estafa. Entre sair de casa, casar-se, ter um filho e mudar para outro Estado longe da família e dos amigos, tudo isso num ano, eles tinham acumulado pontos de estafa suficientemente altos para ultrapassar os limites do gráfico. Assim que perceberam isso, conseguiram colocar as dificuldades conjugais dentro da perspectiva adequada, contrastando-as com o panorama das enormes mudanças repletas de tensão por que tinham passado. Deixaram de reagir exageradamente à tensão como indicador de que algo ia mal com o casamento e começaram a avaliar saudavelmente a maneira de controlar o cansaço pelo qual cada um estava passando.
Novos empregos, outras pessoas, novos ambientes — qualquer coisa nova — tudo isso apresenta desafios potenciais para aquilo que acreditamos ser, mas também nos oferece grandiosas e novas possibilidades de vida. Às vezes, o desafio chega violentamente, sem nenhum aviso. Suponha que parte de sua identidade seja “Eu sou uma esposa”. Basta um telefonema numa manhã comum de segunda-feira e, de repente, você é viúva. Ou talvez parte de sua identidade seja: “Eu estou financeiramente segura.” Então chega a Segunda-Feira Negra e você está de volta ao ponto zero. Ou talvez parte de sua identidade seja o fato de que está ocupada com o seu próprio mundo, sem se importar com o que os outros estão fazendo, mas aí Chernobyl explode na atmosfera e de repente o mundo todo se encontra potencialmente dentro do quintal da sua casa.
H. G. Wells disse certa vez que o futuro é uma corrida entre a catástrofe e a educação. Sem a catástrofe, você não é motivado a mudar; mas, com catástrofes demais, você fica paralisado e se torna incapaz de mudar.
O caráter repentino do desafio, no entanto, também pode vir de maneira prazerosa — você ganha uma viagem, encontra uma pessoa especial, recebe uma herança. Mas, quer a novidade lhe cause um choque, quer o estimule, ela vai fazer mais do que mudar sua vida física. Vai oferecer-lhe a oportunidade de ver a si mesmo e à realidade com novos olhos. O desafio representa aquilo que Marilyn Ferguson definiu em seu livro  The Aquarian Conspiracy [A Conspiração Aquariana], como o “ponto de partida” da mudança.
Segundo a teoria dos sistemas, as pessoas e as instituições sociais só evoluem quando não são mais capazes de produzir os resultados necessários.
Enquanto as instituições estão funcionando, elas permanecem intactas. O mesmo acontece com a nossa vida pessoal. Podemos ter um sistema pessoal, um conjunto de
crenças que funcione por alguns anos, durante uma existência ou várias existências.
Enquanto uma determinada estrutura de crença estiver trazendo as pessoas e os acontecimentos de que precisamos para o local do nosso aprendizado, a forma ainda
estará funcionando. Os fluxos e as possibilidades de aprender ainda estão quentes, vivos e demonstram vitalidade. Mas quando a forma já não oferece mais oportunidades de crescimento, quando estamos começando a andar como sonâmbulos por toda parte, as coisas começam a desmoronar.
Quando a tensão vai se acumulando durante anos ou ao longo de vidas inteiras, ela acaba atingindo o ponto de ebulição. O desafio é aquele momento de erupção em que o controle da forma não consegue mais segurar a fortaleza. E parece que toda a ordem se desfaz graças ao desafio.
A família de uma jovem adolescente solicitou tratamento para ela porque estava constantemente com problemas e recusava ajuda. Quando entrei em sintonia com a garota, a primeira imagem que vi foi a de água espirrando para todos os lados sem limites (as emoções estavam fora de controle). Outra imagem que eu vi foi a da cabeça e do corpo da moça separados. Vinha-me a informação de que não havia nenhum controle racional presente. Então eu vi um carro despencando morro abaixo, sem freio, e percebi que ele ia se despedaçar. Minha filha, na época, tinha quase a mesma idade dessa garota. Enquanto via essas cenas destrutivas, perdi a objetividade, escorreguei para o eu maternal e exclamei: “Oh, não!”
Imediatamente, as imagens da garota desapareceram e passei a ver um panorama do universo. Num cantinho, havia uma caixinha branca, microscópica, e foi-me dito em Espírito: “Nunca se esqueça de que isso é tudo o que você sempre vê em
determinado momento.”

As 7 Etapas de Uma Transformação Consciente, p. 120

Foto: Kristy3438

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