Na América do Norte, o conto intitulado “A menininha dos fósforos” é mais conhecido na versão de Hans Christian Andersen. Ele descreve as conseqüências da falta de alimento e da falta de concentração. Trata-se de uma história muito antiga, contada pelo mundo afora, em versões diferentes. Às vezes ela fala de um carvoeiro que usa seus últimos carvões para se aquecer enquanto sonha com tempos passados.
Em algumas versões, o símbolo dos fósforos é transformado em algum outro objeto, como na história do pequeno florista, que descreve um homem magoado que contempla fixamente o centro das suas últimas flores até desaparecer para sempre.
Embora haja quem dê uma interpretação superficial a essas histórias e declare que não passam de histórias piegas, querendo dizer que elas têm excessivo apelo emocional, seria um erro ignorá-las sem lhes dedicar maior atenção. Em sua essência, esses contos são profundas expressões da psique, a qual pode vir a ser hipnotizada negativamente a um tal ponto que a vida real e vibrante começa a “morrer” em espírito.
A primeira vez que ouvi essa versão de ‘’A menininha dos fósforos” foi da minha tia Katerina, que veio para os Estados Unidos depois da Segunda Guerra Mundial. Durante a guerra, sua humilde aldeia de lavradores da Hungria havia sido dominada e ocupada por três nações hostis. Ela sempre começava a história dizendo que sonhos agradáveis sob circunstâncias difíceis não fazem bem e que nos tempos árduos precisamos ter sonhos fortes, reais, sonhos que possam se realizar se trabalharmos com afinco e bebermos nosso leite à saúde da Virgem.
Mulheres Que Correm Com Lobos, por Clarissa Pínkola Estés.
Foto: Temari 09